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Combate ao racismo não faz quarentena: Conheça a luta desses estudantes negros

O racismo não deve ocupar nenhum espaço da sociedade, muito menos a escola! A educação tem o papel de transformar os estudantes e combater desigualdades. Por isso, a luta antirracista é urgente, inclusive durante a pandemia, e tem muito estudante engajado na mobilização.

Apesar de estarmos em isolamento, o racismo não deve deixar de ser debatido. A presidenta da UBES, Rozana Barroso, diz que é preciso estar atento principalmente agora que estamos acompanhando o agravamento da desigualdade social que atinge boa parte da população negra mais pobre.

“O que a gente tem que fazer é estar cada vez mais organizado pra disputar ideias na internet, organizar mais estudantes, conquistar mais direitos e barrar ataques”, afirma Rozana.

A UBES conversou com estudantes negros para que eles contarem o que já passaram na escola e como estão organizando a luta antirracista mesmo durante a pandemia. 

O racismo está nos detalhes

O estudante Hector Batista de 20 anos que mora em São Vicente (SP), continua engajado na luta antirracista mesmo durante a quarentena para que nenhum estudante negro continue sofrendo preconceito. Ele conta que uma das situações mais racistas que passou na escola foi durante uma gincana. Na escolha dos papéis para uma peça, não deixaram ele ser o príncipe, pois alegaram que deveria ser um estudante branco.

“Mesmo eu sendo o mais envolvido no teatro e mais atuante na sala de aula, não pude ser o príncipe pois queriam um garoto branco. Foi muito desmotivador pra mim, não queria mais participar de nada”, conta Hector.

Depois do baque e de quase desistir de participar das atividades, ele mudou de ideia e resolveu criar forças para mobilizar, até virar presidente do grêmio. Junto aos estudantes do colégio, ele conseguiu criar várias campanhas sobre a cultura negra. Algo que ele indica que os grêmios continuem durante o isolamento por meio das páginas nas redes socias, além de incentivar a participação de estudantes negros.

“Fomos enganados, escravizados, torturados e até hoje lutamos por respeito, dignidade e liberdade. A escola é um espaço de formação para nós, por isso é importante conscientizar que somos todos iguais.” – Hector Batista de 20 anos.

Lutar para mudar

Para a estudante Ana Vitória Gomes de 18 anos que mora em Salvador (BA), a sala de aula é o espaço para vencer todos os preconceitos. O racismo, o machismo e a LGBTfobia devem ser discutidos na escola para acolher os mais atingidos pelo preconceito e combater inclusive a evasão escolar. Entre as meninas negras, 33% delas entre 19 e 24 anos não terminaram o ensino médio, enquanto o índice é de 18,8% entre as brancas, segundo dados do IBGE.

“Desde pequena sempre ouvi minha família dizer “estude, você é preta e tudo pra preto é mais difícil”. Já perdi varias oportunidades de estágio por ser negra, e o que eles falam é que ‘você não tem o perfil da empresa’”, conta Ana Vitória.

Na escola, a estudante já sofreu racismo de uma funcionária. Como enfrentava dificuldades para a coordenação agilizar a fundação do grêmio, ela perguntou se iria conseguir vencer essas manobras. A funcionária disse que se ela fosse branca, até que conseguiria, mas ela não é.

“Naquele momento, eu senti na pele o racismo. Não deixei isso me abalar, fui em busca dos meus sonhos e consegui a fundação do grêmio. E mais, pude o presidir durante 2 anos”, conta Ana Vitória de 18 anos. 

A estudante diz que busca promover ações como lives nas redes sociais entrevistando personalidades negras e debates virtuais para fazer com que os estudantes entendam que mesmo em quarentena a luta não pode parar. 

Debater é urgente

Conversar sobre racismo e diversidade racial é preciso! Já que não é possível se encontrar pessoalmente ou participar de eventos como o Ennubes que rolou no ano passado, o jeito é se encontrar virtualmente. Nas páginas dos grêmios, nos grupos de whatsapp ou em outras plataformas digitais que permitam explorar temas antirracismo.

Nossa presidenta, Rozana Barroso, está fazendo isso e participando de muitos encontros, entrevistas e debates defendendo direitos e combatendo ataques do governo. Ela luta hoje, por ter sofrido racismo na escola por conta de seu cabelo. “Isso me deu forças para lutar por uma escola melhor”, conta a estudante.

“Na escola, as pessoas me chamavam de cabelo de bombril, vassoura e até cortavam ele. Mesmo sofrendo outras situações depois, isso foi o que mais me marcou por eu me sentir vulnerável naquele espaço longe de casa. Por isso lutamos por uma escola que promova a inclusão, não a exclusão.” – Rozana Barroso, presidenta da UBES

Diversidade racial já deveria ser uma realidade da escola afinal há uma lei que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena. O problema é que apesar da lei estar em vigor há 15 anos, a diversidade racial não está na pauta de 52% das escolas públicas no Brasil de acordo com o Censo Escolar de 2015.

“Nós lutamos por um projeto de uma educação libertadora e democrática que ensine a história do povo brasileiro. A educação é a grande aliada da luta antirracista, por isso precisamos que a lei seja aplicada corretamente na sala de aula”, afirma Rozana.

Lembrando: Racismo é crime!

Na escola ou em qualquer lugar, não aceite ver ou passar calado por uma discriminação racial. Se acontecer no colégio ou durante uma aula, leve o caso para a diretoria. Se nada for feito ou for mais grave, faça uma denúncia na delegacia ou pelo telefone no Disque 100. A juventude negra não calar sua voz! #ChegaDeRacismo