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No país de Marta, meninas insistem para jogar bola na escola

“Não vai ter uma Marta para sempre”, alertou a jogadora após último jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2019, neste domingo (23/7). Após a eliminação do Brasil no torneio feminino com maior visibilidade da história, a artilheira pedia mais incentivo à modalidade, que enfim parece chamar atenção.

Não é o que se vê nas escolas brasileiras, por reflexo da sociedade. Mas secundaristas como Anna Luísa, Maria Eduarda e Ana Paula já fazem parte de uma geração que assiste jogos femininos na TV e torce por jogadoras do seu gênero. Elas superaram estigma, insultos, falta de espaço e incentivo, principalmente no ensino fundamental, e atualmente conseguem treinar nos Institutos Federais onde cursam o ensino médio.

“Na Educação Física era aquela coisa: meninos em um espaço para jogar futsal, meninas em outro para jogar vôlei”, lembra a catarinense Ana Paula Selhorst. A paraibana Ana Luísa Sousa não conseguia meninas para um time e a paulista Maria Eduarda Pedrozo era chamada de “maria macho”,por ter habilidade com os pés.

Elas lamentam, pois veem a prática do jogo como uma atividade importante no seu dia a dia, ainda que não de forma profissional. E acompanham com euforia o crescimento de visibilidade da seleção. “Viemos conquistando muitos espaços, como a Copa do Mundo com transmissão nacional. Acho que estamos conseguindo diminuir esse buraco entre homens e mulheres”, resume a paraibana Anna Luísa, de 16 anos.

Mais incentivo = mais interesse

Anna Luísa da Silva Sousa sempre gostou de jogar bola, acostumada a brincar com o pai e dois irmãos. Mas só passou a fazer parte de um time feminino no Instituto Federal. Antes de entrar no campus Monteiro do IFPB, nunca conseguia montar time de meninas no ensino fundamental! “Não conseguia juntar meninas suficientes, as pessoas olhavam torto. No IF vejo meninas interessadas muito por causa do incentivo da instituição”, conta. 

Hoje joga no time do seu curso, no time do IF e montou ainda uma equipe feminina no seu bairro, o Apimentadas F.C: “Para mim o futebol é algo bom pela amizade que traz entre as equipes, a brincadeira em si, poder ir para campeonatos”. 

Até tentaria o futebol profissional (o que seria o sonho do seu pai, que trabalha como vigia e já jogou em times locais), mas não foca nisso pela falta de perspectivas. Ela, que cursa o ensino médio técnico em Edificações, planeja estudar Engenharia. E manter sempre o futebol. “Por gosto mesmo!”

Mesmo com a derrota da seleção brasileira nas oitavas de final da Copa do Mundo, Luísa comemora o avanço da visibilidade, com transmissão nacional e mundial do torneio: “Acho que estamos conseguindo diminuir esse buraco entre os homens e as mulheres que jogam”.

Com luta, elas conquistaram espaço

Até 2017, só os meninos podiam treinar futebol no campus Avaré do Instituto Federal de São Paulo. Isso mudou graças à luta de estudantes, junto com o grêmio. “Tivemos que lutar muito para que houvesse o treino feminino”, lembra Maria Eduarda Pedrozo, que joga até hoje, enquanto cursa o 3º ano do ensino médio técnico em Lazer.

Agora finalmente o time é reconhecido na instituição, depois de dois vice-campeonatos municipais e o primeiro lugar na etapa estadual dos Jogos dos Institutos Federais (JIFs).

Duda sempre gostou de jogar bola – até chegou a compor a seleção da cidade – mas já aguentou muito insulto na escola: “Diziam que eu era ‘maria macho’”. 

Ela não se deixou abater e pretende manter sempre o futebol atividade de lazer: “É um ambiente onde a gente se diverte bastante. Também me proporcionou uma das experiências mais legais da minha vida, que foi participar dos JIFS em Belo Horizonte, no ano passado”.

Futsal para os meninos, vôlei para as meninas

Ana Paula joga “com os guris” desde os 7 anos. Mas sempre foi difícil espaço e estímulo na escola. “Na Educação Física era aquela coisa: meninos em uma quadra para jogar futsal, meninas na outra para jogar vôlei”. Quem não passou por isso? Se não tem a paixão da Ana Paula, logo desiste.

Hoje a catarinense de 17 anos faz parte do time de futsal feminino do Instituto Federal Catarinense (IFC). E ainda criou um time de meninas no seu bairro. Pretende seguir sempre jogando, como hobby: “Eu esqueço tudo quando estou em campo. Futebol é o que me faz esquecer tudo que me estressa”.

Ela tem adorado assistir à Copa do Mundo feminina e detesta quando tentam comparar jogadores com jogadoras, pois acredita que cada atleta tem seu perfil. Sabe que a situação ainda é muito desigual, mas comemora: “Estamos cada vez aparecendo mais, erguendo a cabeça e mostrando que temos importância, sim. Mulheres são f***!”.