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Movimento jovem contra assédio chega a redes e ruas no Rio

Fotos: Letícia Sabbatini

“Feminismo é revolução, feminismo é revolução”, gritavam centenas de meninas no centro do Rio de Janeiro na tarde desta sexta (24/8), enquanto pulavam e exibiam cartazes pelo fim do assédio sexual dentro das escolas.

Revolução porque, apesar do assédio não ser uma novidade, a atual geração de estudantes pretende dar um basta na prática que oprime garotas todos os dias, confundida com “brincadeira”, “elogio” ou “drama”. Uma pesquisa deste ano revela que 46% dos estudantes pesquisados, em dez estados, já sofreram assédio no ambiente escolar. A rede pública não possui dados.

Uma paródia virou hino das secundaristas cariocas:

“Eu só quero é ser feliz
Estudar tranquilamente
Na escola que eu escolhi
Poder me orgulhar
E ter a certeza que não vão me assediar!”

 

Como tudo começou

O grande movimento de indignação no Rio de Janeiro começou no dia 17 de agosto, após a demissão de uma professora em uma rede particular de ensino médio. “Ela militava e defendia as alunas que passavam por estas situações”, explica a estudante Marina Fernandes.

Foi o estopim para a criação da hashtag #AssédioÉHábitoNoPensi, usada por muitas matriculadas e ex-alunas para denunciar nas redes sociais situações de constrangimento e abuso, na maioria dos casos cometidos por professores durante aulas. Segundo os relatos, é raro o acolhimento ou qualquer providência a denúncias.

Logo outras escolas aderiram ao protesto de cor vermelha e se somaram aos relatos de assédio nas redes sociais, além dos cartazes e mobilizações nos colégios. É o caso da Escola Estadual Miguel Couto e do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), maior do estado em número de alunos. Nesta última, o grêmio até criou um questionário para quem quisesse fazer denúncias anônimas. A tag acabou abarcando todas as instituições: #AssédioÉHábitoNasEscolas.

“Os casos são conhecidos e naturalizados, sempre aconteceu”, conta Marina. Quanto a rede onde o movimento começou, medidas foram tomadas, como afastamento de docentes e abertura de um canal de denúncia. Mas a luta é ainda maior.

A manifestação desta sexta foi organizada por diversos coletivos e entidades, entre elas a UBES. O que as estudantes querem? Principalmente a mudança do cenário, por meio de maior conscientização e atenção ao assunto. “Almejamos que espaço escolar seja um local seguro, não um ambiente hostil, como é”, resume Marina. A própria união das jovens de vermelho já é um passo para o fim do silêncio.

Tema de sala de aula, sim

Isabela Queiroz, diretora da UBES, acrescenta a importância de se abordar este tipo de assunto no dia a dia, além dos conteúdos disciplinares: “Se a própria escola não educar a rever preconceitos, estaremos formando uma sociedade cada vez mais viciada, que naturaliza o machismo, o racismo e a LGBTfobia, perpetuando essas realidades”.

Esta também é a opinião de Fabiana Gorenstein, especialista em Proteção de Crianças e Adolescentes do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Para ela, quanto mais estes assuntos forem debatidos, mais os próprios adolescentes saberão identificar, apontar e proteger colegas de atitudes nocivas: “Crianças e adolescentes com acesso à informação têm mais oportunidades para reconhecer condutas violentas, apoiar outras e também buscar ajuda sempre que necessário”.

Na pesquisa realizada em 11 estados pela escola de inglês Microcamp, em janeiro, 64,3% dos entrevistados afirmaram que assédio não é tema abordado em sala de aula, apesar de 98,2% acharem necessário.

Como proceder em casos de assédio

Buscar a direção da escola é o primeiro passo, para relatar o que aconteceu e cobrar que sejam tomadas as medidas cabíveis contra o assediador, seja ele aluno, professor ou funcionário da escola.

Além dessas providências, se for o desejo da vítima, ela pode buscar a delegacia de polícia para lavrar boletim de ocorrência, buscar o Ministério Público ou a Defensoria de sua região.

Qualquer prova desse assédio deve ser guardada, como mensagens de texto, postagens, recados, sendo que, se houver testemunhas, elas podem escrever uma declaração contanto o que viu ou ouviu.

Há ainda o Disque 100, mantido pelo Ministério de Direitos Humanos. Lá, os casos passam para uma triagem para garantir que o encaminhamento seja o mais adequado, como polícia, ministério público, conselho tutelar ou outra instituição.