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Sou contra a terceirização! Imagens, relatos e luta

No dia 31 de março de 2017, data de uma manifestação nacional, a principal avenida da capital paulista, pouco antes das 15h, já começava a ser tomada. No vão livre do Masp, tradicional ponto de concentração das manifestações, professores em assembléia já paravam um dos sentidos da Avenida Paulista, uma das mais movimentada da cidade. Na pauta estava a greve, iniciada a menos de uma semana, e as mobilizações contra os projetos do governo ilegítimo de Michel Temer que vão precarizar as condições de trabalho e quase que acabar com a aposentadoria. Convocada pelas Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, as manifestação reuniram cerca de 50 mil pessoas.

Para saber o que os manifestantes acham do Projeto de Lei (PL) 4.302/1998 – que libera a terceirização para todas as atividades das empresas -,  aprovado na quarta feira (22/03) e sancionado na sexta (31/3), a reportagem buscou pessoas de diferentes perfis e áreas.

Ainda no início da Paulista, Marcele de Andrade, que é professora de escola estadual (uma das muitas presentes no local), não titubeou ao se colocar contra a PL da terceirização. “É a precarização do trabalho. É a gente voltar no tempo, é uma forma de analogia à escravidão, a gente perde todos os direitos”.  Ela relata que na escola que trabalha consegue ver claramente a situação dos colaboradores terceirizados.

“É péssima (a situação dos terceirizados). Todas as merendeiras são terceirizadas, aí quando chega o final do ano, quase sempre são mandadas embora e outras são contratadas. Por conta disso, no início do ano os alunos ficam, quase sempre, sem merenda e a escola sem limpeza”, relatou.

A resistência vive dentro das salas de aula. Segundo Marcele, os professores, principalmente os das áreas de Humanas, fazem questão de discutir com os alunos pautas tão importantes como esta. “Lá é uma espaço de debates. Muitas vezes eles não entendem o que passa na mídia, então lá eles podem tirar dúvidas. Além disso, muitos alunos têm pais que são terceirizados em seus empregos e conseguem ver de perto como é pior”, disse.

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Marcele Marques, professora da rede estadual: “No fim do ano, todas as merendeiras terceirizadas são trocadas”. (Foto: Yuri Salvador)

Parada em frente à uma cafeteria estava Miky Sugiyama, agente estadual de trânsito. Não portava bandeira, faixa ou cartaz. Não parecia, mas ela também estava na manifestação. “Eu sou agente de trânsito, trabalho no Detran e lá boa parte dos serviços já foi terceirizado. Limpeza, atendimento de frente, e é muito nítido como os outros trabalhadores estão numa condição muito precarizada. Eles nunca têm férias, nenhuma assistência, porque as empresas abrem falência. É tudo meio absurdo”, alertou.

Questionada sobre como ela achava que o jovem encontraria o mercado de trabalho ao sair da universidade, tendo em vista as atuais decisões do governo, ela foi enfática:

“Eu acho que o cenário é triste, devastador”, frisou. “Mesmo a juventude que conseguiu incrementar a renda e estudar um pouco mais nos últimos anos vai perder padrão de consumo sem entender nem o que está acontecendo”, completou.

Para Miky Sugiyama, agente de trânsito que estava na manifestação, "é nítido" como terceirizados da empresa tem condições piores de trabalho. (Foto: Yuri Salvador)

Para Miky Sugiyama, agente de trânsito que estava na manifestação, “é nítido” como terceirizados da empresa tem condições piores de trabalho. (Foto: Yuri Salvador)

Em outra esquina, estava um grupo de trabalhadores da limpeza urbana, que na cidade de São Paulo já é terceirizada.

P.S.S. não quis dar entrevista por medo de perder o emprego. Mas topou conversar com a reportagem. Disse que, apesar de ter vale transporte e alimentação, não tem um bom salário e não se sente seguro.

“Na minha idade (49) não dá pra ficar desempregado, né? Se fosse igual lá no Rio de Janeiro, que trabalha direto contratado pela prefeitura, teria mais garantia, né? Agora imagina quem trabalha no Correio e ganha bem. Eles estão com medo de ganhar mal. Eles querem acabar com tudo, com fundo de garantia. Aí fica bom só pro patrão”, definiu.

P.S.S., terceirizado na limpeza urbana paulistana, explica que não tem garantia: "É bom só para o patrão".

P.S.S., terceirizado na limpeza urbana paulistana, explica que não tem garantia: “É bom só para o patrão”.

Após conversar com perfis tão diferentes, faltava ouvir o que a juventude pensa a respeito deste projeto. Bianca Borges, aluna do primeiro semestre do curso de Direito do Largo São Francisco (Faculdade de Direito da USP), descia a Rua da Consolação em meio às palavras de ordem, apitos e megafones, sentido Praça da República, destino final do ato.

“Sabe, eu acho que este projeto, assim como outras medidas deste governo, é mais um obstáculo à juventude, é mais uma coisa que tira nossa esperança de ter um futuro melhor. Muitos jovens ingressam na faculdade buscando condições melhores de vida, melhores do que as que seus pais tiveram, por exemplo, e este projeto de terceirização ameaça isso”.

Ela sentenciou: “Deveríamos estar lutando por mais direitos trabalhistas, mas ao invés disso estamos lutando pra não perder o que já temos”.

Para a estudante de Direito Bianca Borges, projeto tira a esperança da juventude.

Para a estudante de Direito Bianca Borges, projeto tira a esperança da juventude. (Foto: Yuri Salvador)

De São Paulo, por Yuri Salvador / Edição: Rafael Minoro

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