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“Ocupações nas escolas são o movimento mais revolucionário hoje”, diz Tico Santa Cruz

Quase três meses depois de ter feito um discurso que a tornou nacionalmente conhecida, na Assembleia Legislativa do Paraná, a estudante Ana Júlia explicou as causas das ocupações de escolas em 2016 e fez um balanço do que significaram na vida nacional e na vida dos estudantes.

Ela participou da mesa “Grêmios estudantis e ocupações: organizando eu posso desorganizar!” do 3º Encontro Nacional de Grêmios, na qual também estavam os artistas Tico Santa Cruz, Flávio Renegado, a presidenta da UBES Camila Lanes, o diretor da Federação Nacional de Ensino Técnico (Fenet) Guilherme Brasil e o promotor do Ministério Público do Ceará Hugo Frota Magalhães Porto Neto.

Aos gritos de “é o Paraná”, Ana Júlia saudou os jovens presentes de São José dos Pinhais (PR), os primeiros a ocuparem sua escola, no começo de outubro, o que desencadeou um movimento em todo o País. E analisou: “Fomos a categoria mais combativa ao governo ilegítimo, que acreditou que iria aprovar tudo que quisesse na maior tranquilidade. Mostramos que isso não ia acontecer sem resistência e luta. A reforma do Ensino Médio não se propõe a melhorar a educação e a PEC 55 ameaça direitos conquistados”.

A paraense de 16 anos também lembrou das vivências naquele período:

“Foi um aprendizado para a minha vida: trabalhar em grupo de forma que não aprendemos na escola. Além dos resultados coletivos, foi uma dádiva a cada um de nós que viveu as mobilizações”. Ana Júlia, estudante

Além do mais, afirmou Ana Júlia, os adolescentes se colocaram na sociedade: “Provamos que queremos fazer parte do destino do País, que queremos fazer parte da vida política, como garante a Unicef e o Estatuto da Criança e do Adolescente”.

Ana Júlia: "Fomos a categoria mais combativa ao governo ilegítimo, que acreditou que iria aprovar tudo que quisesse na maior tranquilidade". (Foto: Marcelo Rocha/ Mídia NINJA)

Ana Júlia: “Fomos a categoria mais combativa ao governo ilegítimo, que acreditou que iria aprovar tudo que quisesse na maior tranquilidade”. (Foto: Marcelo Rocha/ Mídia NINJA)

O cantor Tico Santa Cruz se disse emocionado com a fala da companheira de mesa. Para ele, em outubro do ano passado Ana Júlia “conseguiu atingir pessoas que não estavam entendendo do que se tratavam as ocupações, aos 45 minutos do segundo tempo, quando a mídia estava conseguindo criminalizar este movimento”. Durante sua explanação, o cantor carioca, que se solidarizou com os estudantes desde o início das mobilizações, arrancou aplausos várias vezes.

ENG mesa ocupações foto Amanda Macedo

Guilherme Brasil, da Fenet, Camila Lanes, presidenta da Ubes e o cantor Tico Santa Cruz, em mesa do 3º Encontro Nacional de Grêmios no dia 30/1 (Foto: Amanda Macedo)

Quem está puxando o movimento

“Uma parcela da população brasileira não se importa com a educação pública porque tem seus filhos nas escolas particulares. Falta empatia ao povo brasileiro. Acho que nossas responsabilidades são do tamanho do nosso privilégio. Por isso me solidarizo com vocês, dar visibilidade para isso é o papel do artista”, disse o cantor carioca. E afirmou: “Acho que o movimento de vocês é hoje o mais revolucionário”.

O cantor Flavio Renegado concordou: “Ao longo do golpe, me perguntavam onde estava a esquerda brasileira. Eu dizia: ‘A esquerda está ocupando escola’. É isso aí. Temos que nos organizar para não virar esquerda do ar-condicionado”.

Os cantores Flavio Renegado e Tico Santa Cruz, que visitaram ocupações. Para eles, o movimento é "o mais revolucionário" hoje. (Foto: Marcelo Rocha/ Mídia NINJA)

Os cantores Flavio Renegado e Tico Santa Cruz, que visitaram ocupações. Para eles, o movimento é “o mais revolucionário” hoje. (Foto: Marcelo Rocha/ Mídia NINJA)

Ele, que já militou no movimento estudantil quando adolescente, se mostrou sensibilizado com as ocupações que visitou ano passado, em Minas Gerais:

“Várias coisas me deixaram feliz ao visitar ocupações. Uma foi ver quem está encabeçando as mobilizações: prioritariamente mulheres, pretos e LGBT. Quem está puxando o movimento são os historicamente excluídos”.  Flávio Renegado, cantor

Renegado: “Ao longo do golpe, me perguntavam onde estava a esquerda brasileira. Eu dizia: ‘A esquerda está ocupando escola’. Temos que nos organizar para não virar esquerda do ar-condicionado." (Foto: Marcelo Rocha/ Mídia NINJA)

Renegado: “Ao longo do golpe, me perguntavam onde estava a esquerda brasileira. Eu dizia: ‘A esquerda está ocupando escola’. Temos que nos organizar para não virar esquerda do ar-condicionado.” (Foto: Marcelo Rocha/ Mídia NINJA)

Ampliar a discussão

Os participantes enfatizaram a importância de dialogar com quem não participa ou não aprova as mobilizações. “Tem que entrar na discussão, sim. Vamos usar argumentos”, disse Tico Santa Cruz. Para Guilherme Brasil, da Fenet, é importante “debater com as pessoas que discordam de nós”. Ele propôs: “Vamos sair daqui e voltar para as escolas debater, fazer grêmios”.

Ana Júlia foi na mesma linha: “Nós, que estamos aqui hoje, vamos ter que voltar para nossas escolas e formar grêmios para as que não tem, como a minha. Isso não pode esfriar porque 2017 vai ser um ano de ameaças e de luta”.

A presidenta da UBES Camila Lanes aproveitou para dar os parabéns aos estudantes aprovados para ingressar em faculdades públicas com as notas do Sisu, divulgadas um dia anterior. “Vamos garantir nossas vagas na universidade pública. É esse o Brasil que queremos! Queremos educação pública e de qualidade para o povo, para o filho do trabalhador”.

Por Natália Pesciotta, de Fortaleza

Camila Lanes, presidenta da UBES, durante a mesa em auditório da Universidade Federal do Ceará: "Queremos educação de qualidade para o filho do trabalhador". (Foto: Fábio Bardella)

Camila Lanes, presidenta da Ubes, durante a mesa em auditório da Universidade Federal do Ceará. (Foto: Fábio Bardella)