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Lideranças estudantis analisam avanços e desafios das mulheres

Ao olhar para suas vidas e de quem veio antes, as jovens à frente do movimento estudantil secundarista enxergam muitos avanços. Dos cargos de liderança da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), mais da metade são preenchidos por garotas: 9 de 15. E é exatamente a maior possibilidade de oportunidades, profissões e ambições que elas citam como mudança na realidade das mulheres de hoje, em comparação com gerações de mães e avós.

Enquanto não veem mais casamento ou filhos como urgências obrigatórias nem funções secundárias como único destino profissional, as estudantes sabem apontar de pronto os desafios que ainda são grandes: “É ótimo que as mulheres tenham acesso ao mercado de trabalho, porém ser obrigada a fazer jornada dupla ou tripla para isso destrói a nossa saúde”, cita Juliene Silva, secretária geral da UBES.

A lista de problemas continua: assédio nas ruas, medo, desunião entre mulheres, intervenção do Estado sobre o corpo feminino. “Eu luto para que as próximas gerações não passem por nenhum tipo de abuso. Não tenham medo de andar na rua sozinhas, não deixem de fazer absolutamente nada por serem meninas”, explica Fabíola Loguercio, diretora de Comunicação da entidade secundarista.

Mas elas mesmas dão sinais de que está posta a semente para que os caminhos continuem se abrindo. Glória Silva, diretora de Escolas Técnicas, afirma: “A mulher de hoje, principalmente a adolescente, já tem uma compreensão sobre o patriarcado, fazendo com que tenhamos mais resistência e luta”.

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Camila Lanes, presidenta da UBES

8 de março Camila

“Precisamos mudar a questão da intriga entre mulheres, naturalizada pela sociedade. Passei muito por isso, mas acho que, nas escolas, já está mudando.”

Eu vejo que as mulheres hoje têm um pouco mais de liberdade, em comparação, por exemplo, com as mulheres mais velhas da minha família. Sou fruto do primeiro relacionamento da minha mãe. Ela era jovem, se casou e me teve. Posso estar enganada, mas vejo hoje mais liberdade de escolha e de oportunidades. Não que a gente já viva num mundo ideal – por isso a luta continua para que as próximas gerações possam ter cada vez mais liberdade de escolha, mais oportunidades e mais ambições, sobre o próprio corpo e sobre o futuro, seja na vida profissional ou pessoal.

Uma das principais coisas que ainda precisamos mudar, em especial na formação dessa geração maluca, é a intriga naturalizada pela sociedade entre mulheres. Passei muito por isso na escola, vejo ainda muitas passando por isso. Mas acho que tem mudado, graças à onda feminista que, ainda bem, tem ganhado mais espaços e esteve presente nas ocupações das escolas. Temos que acabar com essa questão de meninas brigando entre meninas para disputar quem é a menina melhor, ou a mais bonita, a mais magra, a que tem o cabelo mais bonito, a mais amada pelos meninos.

Devemos lutar para que nós, mulheres, sejamos amigas, irmãs, consigamos nos ajudar e tenhamos mais união para conquistar nossos direitos.

Em segundo lugar, precisamos urgentemente mudar a questão do assédio que sofremos nas ruas todos os dias. Existe o paradigma de que se o homem acha a mulher bonita pode assediá-la, e se ela disser que não, pode chamá-la de “vadia”, “puta”, pode inventar mentiras para espalhar sobre ela. Precisamos acabar com isso para mudar não só a vida das mulheres, mas a vida de todos e todas.

Juliene da Silva, secretária geral da UBES

8 de março Juliene

“Enquanto minha avó é analfabeta, minhas tias cursaram o ensino médio e eu me vejo com possibilidade real de entrar na universidade. O acesso avançou, com a luta de muitas mulheres.”

Mais do que avanço na possibilidade de vida das mulheres, eu preciso destacar o avanço das mulheres negras, porque é o que está intimamente ligado a mim. Enquanto minha avó é analfabeta e trabalhava como lavadeira, minhas tias tiveram a possibilidade de cursar até o médio e técnico, tendo minha mãe sustentado a família como doméstica. E eu, hoje, me vejo com possibilidades reais de entrar em uma universidade. Então, mais do que o avanço em direitos, o que constato, principalmente através da minha família, é uma modificação no acesso às oportunidades, muito graças às políticas públicas afirmativas e à luta de diversas mulheres que vieram antes.

Acho que temos duas questões mais gritantes para modificar: primeiramente, o direito ao corpo das mulheres. É inaceitável ainda estarmos discutindo aborto, termos pouco ou quase nenhum avanço para o fim da violência obstétrica e no meio dessas discussões ainda lidarmos com interferências religiosas em um Estado que deveria ser laico.

Em segundo, acho que avançamos muito enquanto feministas, tendo um panorama geral, mas creio que isso foi feito de uma forma ainda bem elitista, individualista e neoliberal. A própria chamada internacional para a greve de 8 de março, construída por mulheres como Angela Davis, propõe redirecionar as lutas femininas para os outros 99%. É ótimo que as mulheres tenham acesso ao mercado de trabalho, porém ser obrigada a fazer jornada dupla ou tripla para isso destrói a nossa saúde.

É preciso auxílio para permanência nos estudos das mães secundaristas. É necessário igualar as oportunidades de acesso à instituições de ensino e mercado de trabalho entre mulheres negras, brancas, cis e trans, além de outras questões que avançam apenas com uma visão coletiva.

Fabíola Loguercio, diretora de Comunicação da UBES

8 de março Fabiola

“Eu luto para que as próximas gerações de mulheres não tenham medo de andar na rua sozinhas, não deixem de fazer absolutamente nada por serem meninas.”

Uma avó minha cursou magistério, casou aos 19 anos e desde então ficou trabalhando em casa, cuidando dos filhos. A outra, quando criança foi morar em uma casa de família e, em troca de estudo e comida, limpava e cuidava da casa, até casar. Daí fez um curso técnico e trabalhou como secretária de escola por muito tempo. As duas cobraram e exigiram muito que todos os seus filhos, e, principalmente, as filhas, estudassem. Como elas mesmo diziam, “para não ter que depender de marido nenhum”.

Hoje eu sei que primeiro não preciso me casar para mudar de vida ou sair de casa. Claro que ainda hoje nós, meninas, enfrentamos muitos desafios, gigantescos, mas minhas avós me inspiram, mesmo que inconscientemente, a fazer minhas escolhas, a ser forte, determinada, não abaixar a cabeça pra ninguém e procurar sempre ser feliz.

Ainda há muitos limites. Abuso, assédio, medo… Eu luto para que as próximas gerações não passem por nada disso. Nem um tipo de abuso! Não tenham medo de andar na rua sozinhas, não deixem de fazer absolutamente nada por serem meninas.

Glória Silva, diretora de Escolas Técnicas da UBES

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“A mulher de hoje, principalmente a adolescente, já tem compreensão sobre o patriarcado, fazendo com que tenhamos mais resistência e luta.”

Hoje as mulheres têm mais acesso a espaços que antes eram colocados como lugares apenas para homens, como escolas, empresas e outros. E mulher de hoje, principalmente a adolescente, já tem uma compreensão sobre o patriarcado, fazendo com que tenhamos mais resistência e luta de todas as formas para buscar derrubar esse tipo de sistema.

Precisamos ainda romper com a lei que proíbe o aborto, muitas mulheres morrem por abortarem em clínicas clandestinas que são verdadeiros açougues, são excluídas da sociedade por precisar de um, se veem obrigadas a conviver com homens que as maltratam apenas para agradar os costumes de família. Rompendo isso damos um grande passo contra o conservadorismo e o patriarcado.