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“Escola não vai ensinar a ser homossexual, mas a ter respeito”

“Quantas de vocês já sofreram LBTfobia nas escolas? E quantas já foram xingadas pelas suas famílias?” A sala cheia de mãos levantadas na quinta-feira (7), na faculdade Zumbi dos Palmares em São Paulo mostrava que havia muito o que ser discutido naquele debate do Encontro de Mulheres Estudantes (EME) da UBES.

Como se não bastasse, depois de disparar as perguntas, a participante Juliana Alves, coordenadora do movimento Olga Benário, lançou um dado: a cada 25 horas, uma pessoa LGBT morre no Brasil. Políticas públicas e uma formação cidadã foram apontadas como caminhos para mudar essas realidades.

Tremedeira na fila da matrícula

Simmy Larrat, outra componente da mesa, lembrou que a vida das pessoas LGBT nas escolas incluem violências absurdas e diárias. Ela é a primeira presidenta trans da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), e coordenou um programa de cidadania para transexuais, na cidade de São Paulo. “Neste projeto, levamos pessoas para a escola depois de 20 anos fora das salas de aula. Elas tremiam na fila da matrícula! Diziam até que desistiriam da bolsa por conta das lembranças”, relata.

Simmy apontou como acabar com séculos de opressão: demonstrar que a escola é espaço para todas e todos, políticas de inclusão, respeito ao nome social, campanhas contra a discriminação “Existe uma confusão na cabeça das pessoas. A escola não vai ensinar como faz para ser gay, como é ser trava”, brincou. E complementou, séria: “Vai ensinar, sim, o que é compreensão e respeito”.

“Existe uma confusão na cabeça das pessoas. A escola não vai ensinar como faz para ser gay, como é ser trava. Vai ensinar, sim, o que é compreensão e respeito”.

O que o patriarcado tem a ver

As convidadas lembraram que a estrutura das escolas, de disputa, poder e competições, reflete o patriarcado e capitalismo que regem a sociedade. “A estrutura patriarcal deixa pré-estabelecido o que a mulher deve ser, o que deve fazer, quem deve amar. Se foge do padrão, não é reconhecida como cidadã, não tem suporte na saúde, é invisibilizada”, afirmou Regina Brunet, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM).

Danieli Balbi, professora da rede estadual do Rio de Janeiro e representante da UNALGBT (União Nacional LGBT), opinou no mesmo sentido. Para ela, é por conta do sistema de disputa e padronização que o ambiente escolar destrói identidades em vez de ajudar a construí-las.

Look lésbico

Nos relatos das secundaristas, ficou cada vez mais clara as dificuldades criadas pelo ambiente escolar para que cada uma se reconheça, em um momento já confuso para autoafirmação das jovens. Durante as falas abertas, elas saudaram o espaço para dividir questões das mulheres nem sempre lembradas no movimento LGBT. A invisibilidade das lésbicas, por exemplo e a pressão para que as meninas lésbicas se encaixem em padrões.

“Quando a gente tem relação entre duas mulheres, as pessoas perguntam ‘quem é o homem da relação’. Não tem homem, gente! Se a gente é lésbica e quer usar batom, também acham que tem algo errado”, desabafou Brisa Bracchi, diretora de Mulheres da UBES e mediadora da mesa. Kalesca, da Associação Cearense de Estudantes Secundaristas (ACES), terminou ironizando:

“Às vezes uso vestido, outras me visto com roupas largas. Não existe ‘look lésbico’. Pode ser mulher hétero e usar camisa xadrez! Não, eu não sou obrigada a escutar Ana Carolina. E as héteros podem ouvir, se quiserem”, brincou, arrancando risos e criticando a estigmatização das pessoas LGBT e defendendo a igualdade e liberdade entre todas e todos.

Natália Pesciotta, de São Paulo
Fotos: Paulo Ricardo | ACES Cascavel – CIRCUS