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“A escola nunca foi tão escola como agora”

Uma verdadeira aula de democracia, essa é a primeira impressão para quem visita a ocupação da escola Conselheiro Crispiniano, no centro de Guarulhos. Pontualmente às 8h, todos os dias os estudantes se reúnem no anfiteatro para realização da assembleia estudantil. Alguns chamam carinhosamente de “nosso parlamento”, pois é neste espaço que as atividades do dia são definidas, tendo como regra central a garantia que todos participem das decisões.

A mobilização foi iniciada na última segunda-feira (23/11), contra o projeto de (des)organização imposto pelo governador Geraldo Alckmin.

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EM DEFESA DA ESCOLA

A Conselheiro é uma escola pública diferente. Com uma grande área de convivência, um espelho d’água repleto de peixes, tartarugas e área verde, o prédio é assinado por Vilanova Artigas – um dos mais importantes arquitetos e urbanistas do Brasil. Apesar de tombado em 2012 como patrimônio histórico da cidade, o fato parece ignorado pelo governo que incluiu a instituição na lista de unidades que terão mudanças no ciclo de ensino.

Pelos corredores, não faltam estudantes explicando o problema que o projeto de reorganização implica, entre eles, o fim do ensino médio e a transferência de alunos de uma escola próxima [Frederico De Barros Brotero] que oferece atendimento especial, porém, por se tratar de um colégio protegido, as reformas para adequação de acessibilidade na Conselheiro não aconteceriam até o início do ano letivo de 2016 para receber os novos alunos.

“A nossa ocupação é em prol do nosso direito de permanecer na escola durante o ensino médio e apoiar as outras escolas que permanecem ocupadas, resistindo”, conta a jovem Yasmin, que recepciona a equipe de reportagem da UBES.

DIREÇÃO TENTA REPRIMIR ESTUDANTES E PROFESSORES

Uma das grandes marcas do “Ocupa Crispiniano” é a luta pela democracia. Desde o primeiro dia, o movimento foi marcado pela agressividade da diretora da instituição que tentou de todas as maneiras impedir a ocupação, como relatam os estudantes.

“Ela foi agressiva e perdeu totalmente a cabeça, xingou a agente e até gestos obscenos fez para nos ofender”, relata a estudante Thamyres Lopes, sobre a arbitrariedade. “O vice-diretor será demitido por ter nos apoiado, muitos professores que nos apoiam tem sido perseguidos”, diz a secundarista do 3º ano.

“Ligaram para meu pai dizendo que eu estava fazendo terrorismo na escola. Estamos em defesa da educação, meus pais inclusive já até dormiram aqui para nos apoiar”, conta Luna Rabelo, do 1º ano. Ela também participou da assembleia dos estudantes na sede das entidades estudantis, que deliberou a continuidade das ocupações em todo estado.

Entre partidas de futebol, manobras de skate e bicicletas que circulam pelo prédio, em segundos Renata Maria [mãe que preparou o almoço desta sexta] e Silvia do Prado [professora de geografia] começam a conversar. “Estou aqui para dar assistência no que puder, mesmo sendo coagida e perseguida. Não tenho condições de tomar café da manhã sabendo que ‘minhas sementinhas’ estão aqui”, fala Silvia.

A professora emenda a frase entusiasmada, ao descobrir que a programação do dia na ocupação é a palestra do professor e pesquisador Vitor Henrique Paro, que estudou na Conselheiro na década de 60 e que faria um debate sobre o direito de ocupação nos espaços públicos. “Na universidade, sempre li o Vitor, distribuí meus afazeres do dia e hoje também estou aqui para conhecê-lo”, diz Silvia animada.

Sobre os aulões na escola, palestras e atividades diversificadas que tem acontecido na ocupação [como balé, debate sobre câncer, curso de eletricidade básica], Thamyres é enfática: “A escola nunca foi tão escola”. Ela diz estar gostando da dinâmica diária das atividades.

No centro do pátio, onde sempre está concentrada a maioria dos ocupantes que leem livros, conversam e até mesmo tocam um violão, o secundarista Matheys Augusto, do 2º ano, desabafa apontando para o mural com as atividades do dia. “É a primeira vez que vivencio isso, além de lutar por nossos direitos, tudo está mais legal e diversificado. Ontem mesmo, tivemos aula de mecânica, coisa que nunca nem imaginei”, diz admirado.

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A UBES, que tem prestado solidariedade às ocupações das mais de 200 escolas ocupadas, acredita que este é um momento histórico para construção da nova escola, e assim como no Conselheiro Crispiniano – onde a recém-eleita presidenta Camila Lanes também compareceu -, a luta sinaliza novos rumos para educação.

“O governo do Estado de São Paulo segue querendo fechar escolas, estamos aqui construindo uma agenda positiva para dizer em alto e bom som que queremos uma escola mais ousada, com mais cultura, esporte, lazer, ciência e tecnologia”, diz o diretor da UBES, Fernando Alves, que está na ocupação.

Cada dia a ocupação aumenta. A visita de ex-alunos, professores e pessoas da comunidade sempre vem acompanhada de novas doações de mantimentos, colchões e água.

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