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Juventude se recusa a ter formação só para o mercado de trabalho

Dois projetos opostos para o ensino médio – um defendido pelo governo Bolsonaro e, o outro, atacado – foram contrapostos no 14º Encontro Nacional de Escolas Técnicas, durante a mesa “Por uma educação libertadora: menos militarização, mais institutos federais”.

A principal diferença, segundo estudantes e convidados presentes na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, no dia 19 de outubro, é que os 642 institutos federais oferecem tanto uma formação técnica quanto uma formação humana e cidadã, enquanto as escolas militarizadas esperam dos estudantes apenas disciplina, medo e silêncio.

Inconstitucional

Livia Vasconcelos, secretária-geral da Associação Cearense de Estudantes Secundaristas, explicou que os IFs são um projeto concreto no seu estado, com 33 unidades espalhadas também por pequenos municípios. Já o projeto de militarização deve abarcar apenas poucas unidades e todas na capital, Fortaleza. Para ela, não pode ser a solução da educação.

Estudante do Instituto Federal do Ceará, a cearense questionou ainda o modelo proposto pela militarização: “Contraria a Constituição Brasileira, que vê a escola como ambiente para nossa formação humana e cidadã. Como aprendemos cidadania num espaço de vigilância que anula as diferenças? ”.

(Foto: Patrícia Santos)

Livia Vasconcelos, secretária-geral da ACES: “Estamos na escola para pensar em melhores formas das coisas funcionarem, não para simplesmente nos moldarmos a sistemas.”

Reforma do Ensino Médio ameaça IFs

Os professores Rogério Teles, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), e Mauro Sala, do Instituto Federal de são Paulo (IFSP), chamaram atenção também para o incentivo ao modelo do novo Ensino Médio, enquanto uma formação cidadã é atacada pelo próprio governo. Para eles, esta é uma enorme ameaça aos IFs. 

Isso porque a reforma do ensino médio oferece uma espécie de ensino técnico integrado ao médio, assim como os IFs, mas com muito menos conteúdo, a menos investimento.

“Começa a se desenhar claramente a dualidade escolar: ter uma escola que forma trabalhadores para o mercado de trabalho e outra que forma a classe média e elite para prosseguimento aos estudos”, disse Mauro Sala. É exatamente esse tipo de ensino que o governo Bolsonaro tem defendido

O modelo dos IFs é assim: 2.400 horas de base curricular, mais a formação técnica. No padrão da reforma, serão apenas 1.800 horas de base, mais a formação técnica.

“Se todas todas as escolas do país forem neste modelo, qual será a razão de ser dos Institutos Federais? Precisamos defendê-los, pois a qualidade é totalmente diferente”, disse Mauro Sala.

(Foto: Celisson / Circus da UBES)

Qualificação para nada

O professor explicou que as opções de formação devem ser muito piores, como já é possível ver no projeto Novotec, do estado de São Paulo, segundo ele um laboratório do que será a reforma do ensino médio:

“Aprende-se simplesmente gestão e negócio para servir a empresas, em formações como ‘Excel para Empresas’, ‘Gestão de Pessoas’, etc. São cursos com uma carga ideológica empresarial muito grande, uma qualificação para nada”.

Rogério Teles concluiu citando uma frase de Paulo Freire: “No Brasil, manter a esperança viva é por si só um ato revolucionário. Parece que ele estava falando do Brasil de hoje!”.

ENTENDA: 

Institutos Federais (IFs) – Rede federal de ensino médio integrado ao ensino técnico. Sofreu cortes e desqualificação do governo Bolsonaro em 2019

Militarização de escolas – Projeto do governo Bolsonaro para instalar, em determinadas escolas estaduais de ensino médio, uma direção militar

Reforma do Ensino Médio – Novo modelo a ser adotado em toda escola de ensino médio, com opção de formação técnica e menos conteúdo da base curricular