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Suzano: nossas heroínas não usam armas

Por Pedro Gorki, presidente da UBES

As heroínas e os heróis da juventude brasileira estão em todos os estados, todas as cidades, nas maiores ou menores escolas públicas do país. Na semana passada, com a tristeza e choque das notícias de Suzano (SP), conhecemos três delas. Marilena, Eliana, Silmara. Uma professora, uma funcionária, uma merendeira que estiveram na linha de tiros do atentado que devastou a todos nós. Marilena e Eliana, infelizmente, se foram. Silmara, sobrevivente, conseguiu salvar 50 alunos e alunas dentro da cozinha fazendo uma barricada de proteção com um freezer e uma mesa.

A grandeza dessas três mulheres para o Brasil foi revelada da pior forma possível. Mas elas já eram nossas heroínas antes disso. São as muitas Marilenas, Elianas e Silmaras desse país que enfrentam todos os tipos de desafios, problemas e riscos diariamente nas escolas públicas por amor aos seus alunos. São heroínas quando ganham salários de fome e têm seus direitos retirados pelas reformas do governo, quando ensinam em salas de aula que caem aos pedaços, sem a menor estrutura, quando lutam para manter na escola uma maioria de jovens da periferia que são ignorados pelo Estado e que não encontram perspectiva em um país de tantas desigualdades.

Ao invés de defender a bestialidade de um professor com um 38 na cintura, deveriam é valorizar as heroínas e heróis das salas de aula com um mínimo de dignidade e políticas públicas.

Quando o senador Major Olímpio (PSL-SP) vomita a opinião de dar armas de fogo para os professores do Brasil, além de tudo revela que não conhece a realidade da educação brasileira e muito menos a qualidade dessas pessoas que estão na ponta do nosso ensino. É o amor desarmado das Marilenas, Elianas, Silmaras brasileiras que está garantindo, neste exato momento, que milhões de jovens encontrem um caminho distante da violência, que o sentimento de coletividade, humanidade e cidadania ainda prevaleça para a maioria das crianças e adolescentes desse país. Sem nenhuma dúvida, o “porte de livros” que foi defendido pela coordenadora Marilena em uma rede social já é, efetivamente, o instrumento que mais salva vidas no Brasil. Nenhum professor ou professora precisa de nenhuma outra arma além dessa.

Ao invés de defender a bestialidade de um professor com um 38 na cintura, o senador e outros políticos com pensamento semelhante deveriam é valorizar as heroínas e heróis das salas de aula com um mínimo de dignidade e políticas públicas. Deviam é garantir os recursos para a educação brasileira e para as inúmeras melhorias que se fazem necessárias. Enquanto opiniões absurdas como essa apenas atiçam o que há de pior na sociedade, o governo catastrófico do partido do senador ensaia, até mesmo, a desvinculação dos investimentos obrigatórios em Educação pelo estado brasileiro, uma medida que vai sucatear ainda mais as instituições e, inclusive, a sua segurança diária. Não há como fazer vista grossa ao tamanho dessa hipocrisia.

Talvez Major Olímpio e esses outros que defendem armas para todos os lados não tiveram a chance de ter uma Marilena, uma Eliana, uma Silmara nas suas vidas quando foram  crianças. Talvez ainda dê tempo de largarem os revólveres e procurarem uma biblioteca. Enquanto isso, as heroínas do Brasil seguirão a sua jornada junto a milhões de jovens brasileiros para que, apesar da cultura política de violência do Brasil de 2019, não puxem o gatilho.

Artigo publicado originalmente na agência Saiba Mais