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Índio não é só cocar e tinta no rosto! É luta e ancestralidade

Quando chega o Dia do Índio, 19 de abril, as escolas de todo o país preparam cocares de cartolina para decorar a sala e pintam o rosto das crianças, mesmo aquelas que não tem origem indígena. Porém, a realidade dos povos originários do Brasil vai muito além dessa visão estereotipada. Os índios brasileiros são um povo de luta e que mantém vivas as suas raízes.

Diferentemente do que faz parecer o Dia do Índio, eles não são um povo passivo nem satisfeito com a desigualdade social e exclusão que lhes atinge. Uma das suas maiores reivindicações é exatamente o direito à educação, com respeito e qualidade.

Avelin Buniacá Kambiwá, indígena, socióloga e especialista em gênero, raça e ensinos religiosos, afirma que há um descaso muito grande e uma tentativa de silenciamento através da educação indígena. Segundo ela, a dificuldade não acontece somente na educação básica, mas também no funil para entrar nas universidades. “Acontece muito da gente sair de nossos estados e aldeias para estudar. Mas não é apenas abrir cotas e vagas, é preciso condições para se manter”, diz.

Avelin Buniacá Kambiwá nasceu em Pernambuco e é defensora da luta indígena

Cerca de 63% dos indígenas que estavam na educação básica em 2016 não conseguiram acessar o ensino superior nem pelas universidades públicas, nem pelos programas do Fies e Prouni, segundo o Censo Escolar. O problema educacional atinge as áreas comuns do ensino e também o conteúdo específico aos indígenas.

Na Constituição Federal é garantida a educação diferenciada, que inclui saberes tradicionais, calendários e materiais escolares adaptados às atividades das tribos. Porém isso não acontece na prática. Além das línguas, há ausência de conteúdos que abordem a medicina natural ou o artesanato, por exemplo. Dados do Ministério da Educação em 2015, mostravam que somente 53,5% das escolas indígenas tinham o material didático adequado para esse grupo étnico.

Avelin afirma que é preciso, nas escola indígenas, manter as tradições. “Há muitos casos de aldeias que não possuem professores bilíngues e é importantíssimo que nosso povo mantenha a tradição de falar a língua mãe. Pois o genocídio e o etnocídio começa pelo extermínio da nossa língua.” Segundo ela, deve-se saber ligar os conhecimentos ocidentais e indígenas para que não haja a perda da cultura de seu povo.

Indígenas na luta para combater os retrocessos

O povo indígena vem sendo um constante alvo de ataques. Recentemente, o povo Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul está sendo ameaçado de despejo de sua própria terra. Lembrando que uma análise do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil de 2016, revela que 63,3% das terras indígenas não têm providências para sua regularização, ampliando a vulnerabilidade das demarcações de território.

Avelin avalia que diante desses retrocessos, a maior potência dos povos indígenas, principalmente a juventude, é se preparar não só nas universidades, mas na própria ancestralidade “para a nossa juventude não esquecer de onde veio”.

Emocionada ao lembrar da aldeia Kambiwá no Pernambuco, onde nasceu e que “carrega no peito”, Avelin conclui:

“Temos de nos preparar para aqueles que têm impedido nosso povo de caminhar. Eles virão com muito ódio. E estão se preparando com as armas do fascismo, as armas do racismo, e as armas do ódio. Nós devemos nos fortalecer com a nossa força ancestral. E assim nós vamos vencer quem pensa que nos destruiu há mais de 500 anos. Nós estamos de pé e continuaremos de pé.”