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Eu, presidenta

Enquanto no Brasil mulheres perdem postos de comando no mercado de trabalho e a primeira presidenta da República foi deposta por um golpe político e parlamentar, dezenas de meninas resistem e se mantêm na linha de frente nas suas escolas.

Estamos falando das presidentas de grêmios escolares país afora, jovens que defendem seus colegas na representação máxima dos estudantes dentro das instituições. Antes dos 18 anos, muitas delas já lideraram protestos, despertaram colegas para a política e, infelizmente, até já sofreram golpes.

Conheça algumas destas estudantes cheias de sonhos e desafios e entenda o real significado da frase “lute como uma garota”.

Ah! Se interessa pela representação, mas sua escola ainda não tem grêmio? Se informe aqui sobre como formar o grêmio na sua escola.

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A voz da maior escola de São Paulo

  Caroline Fonseca, 18 anos
EE Brigadeiro Galvão Peixoto, bairro de Perus
 
São Paulo, SP

A viagem de volta de Fortaleza à São Paulo, no começo do ano passado, acendeu uma luz nas ideias de Caroline. Depois de participar do 3º Encontro de Grêmios, na capital cearense, ela percebeu que podia fazer mais do que reclamar sobre a entidade da sua escola. Por que não assumir a gestão e tentar fazer diferente?

O grande desafio era uma representatividade real dentro da maior escola estadual de São Paulo. Muita coisa para uma garota de 17 anos? De um ano para cá, ela tem como vitória a grande articulação e diálogo entre o grêmio e os cerca de 3.500 estudantes. (E conta que aprendeu muito sobre ouvir os outros)

Um golpe atrás do outro

Aos 18 anos, Caroline sofreu o que considera um golpe. “Sumiram com a documentação do grêmio e disseram que não éramos legítimos. Cheguei a ser proibida de entrar na escola! Tínhamos feito a posse com diversas testemunhas”. Segundo a paulistana, isso aconteceu porque a diretora do colégio com boas relações com o grêmio foi trocada por uma que inibisse a gestão. “Trocam de direção toda hora!”

Representar o grêmio fez Caroline sentar com representantes da Secretaria de Educação diversas vezes. Além da legitimidade da entidade, as maiores batalhas na escola hoje são contra a diminuição de turmas no ensino médio e pela recontratação de professores temporários demitidos. As armas de Carol estão postas: panfletagens, diálogo, atos, paralisações e, principalmente, muito diálogo.

Uma líder nata

 Bruna Bitencourt, 18 anos
 Colégio Estadual Dr°. João Pedro dos Santos, centro
 Salvador, BA

Sabe aquela pessoa que acaba liderando tudo com o que se envolve? A Bruna sempre teve essa característica. Então, virar a presidenta do grêmio foi algo que aconteceu naturalmente, quando a turma da sua escola resolveu criar um.

“Descobrimos o que era e como funcionava o grêmio e me envolvi na hora. Pelo amor ao meu colégio, o desejo de fazer mais por ele, de melhorar aquele espaço e torná-lo mais participativo”, conta a baiana.

O que não quer dizer que foi simples ser reconhecida, pois o machismo da sociedade é o mesmo reproduzido nos ambientes escolares:

“Para que houvesse uma credibilidade com os meninos, foi necessário tempo, para demonstrar que garotas também podem comandar, que tem espaço para todo mundo”.

Além de buscar a desconstrução do machismo, homofobia e racismo, Bruna diz que a prioridade é a construção de uma política cidadã dos colegas. “Temos que mostrar que vale à pena sim ter uma consciência social, que não é chato, e é direito da juventude também!”, termina.

Noites a menos, sonhos a mais

 Rebecca Ellen, 18 anos
 Colégio Estadual Professor Abelardo Romero Dantas, centro
 Lagarto, SE

Para Rebecca, não é só a rotina que muda (e muito!) ao dirigir um grêmio estudantil, experiência que vive há um ano: “Depois que o grêmio apareceu na minha vida, posso afirmar que tudo mudou. Meu modo de ver o mundo e as pessoas, o desejo de lutar pelos estudantes, uma educação de qualidade, de lutar por direitos, de ver o mundo totalmente de um ângulo diferente”.

Não que sejam apenas boas vivências.“Todo o peso recai sobre você, pessoas costumam te atacar e as instâncias maiores caem em cima de ti com um tom de superioridade e até mesmo desprezo”, lamenta.

Mesmo assim, a sergipana acredita que as noites perdidas e as tensões do dia a dia valem à pena. A lista de realizações da sua gestão são alguns dos bons motivos: “Lutamos pela volta dos transportes escolares que não estavam funcionando, cobramos por estruturações internas, lutamos pela construção da quadra poliesportiva, realizamos alguns vários projetos, um deles até sobre gênero e sexualidade, assunto pouco debatido em ambiente escolar”.

Lugar de mulher é todo lugar

 Graziela Carvalho, 17 anos
 IFPB – campus Montero
 Montero, PB

Graziela parece não ter dúvidas quando promete, animada: “Aos poucos, vamos ocupar espaços e mudar esta realidade”. Não é pouca coisa. A realidade sobre a qual ela fala são “as raízes do patriarcado que influenciam muito na sociedade, como se o lugar de mulher não fosse na política”.

Sua representação na linha de frente do grêmio do Instituto Federal em Monteiro (PB) já é um começo. Na gestão, ela também faz o que pode. Ano passado teve a 1ª Semana de Inclusão de Mulheres e LGBTs, que ela pretende repetir este ano. E o grêmio tem comprado a briga de conscientização contra assédio no IF, entre outras batalhas, como por mais assistência estudantil.

“Me envolvi com o grêmio do meu campus assim que entrei no IF, no primeiro ano. Sempre me interessei pelas questões sociais, sempre me revoltei contra o machismo. E no movimento estudantil fui me interessando cada vez mais. Me faz bem estar lutando.”

Escola com vida

 Stéfany Rodrigues, 19 anos
 Escola Estadual de Ensino Médio Dom Antônio Reis
 Santa Maria, RS

 

Stéfany gosta tanto do ambiente escolar que pretende até estudar Pedagogia ao terminar o colégio. Por enquanto, se anima ao saber que pode deixar o espaço com mais convivência e acolhimento.

Para ela, a maior conquista de sua gestão é a integração entre todos os estudantes, mesmo os de turnos diferentes, porque o grêmio criou um calendário de atividades e eventos capaz de unir as turmas e até aproximar os familiares da escola.

Primeira representante trans do colégio, a gaúcha comemora o papel: “Me sinto honrada em representar esta escola, meus colegas e amigos”.

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Por Natália Pesciotta