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YORDAN BANGO: “É papel da juventude enfrentar onda conservadora no continente”

À frente da entidade que representa os estudantes latinos e caribenhos desde junho, o cubano Yordan Bango, de 25 anos, sabe que os problemas enfrentados pela educação pública no Brasil não são uma exclusividade daqui.

Para o estudante de Economia, a falta de prioridade no ensino faz parte de uma onda conservadora e articulada em todo o continente. E isso quase 100 anos depois do Manifesto de Córdoba, a primeira reivindicação de estudantes latinos por uma educação inclusiva e de qualidade. Por isso defende que a função do movimento estudantil, mais do que nunca, é resistir:

“Enquanto educação pública for um sonho, o movimento estudantil estará em luta.”

Nesta conversa durante uma passagem do cubano por São Paulo, ele conta como a OCLAE (Organização Continental Latino Americana e Caribenha dos Estudantes) está se organizando para a resistência. Spoiler: tem a ver com um encontro secundarista organizado também pela UBES neste mês, na Colômbia!

 

UBES: No Brasil, as metas para educação pública estão atrasadas e os investimentos foram congelados. É um problema do nosso país ou faz parte do cenário na América Latina?

YORDAN BANGO: A falta de prioridade para educação pública não é só um fenômeno brasileiro, mas latino-americano. E não só latino-americano, mas também mundial. Em todos os continentes avança a direita. O projeto da direita, no plano econômico, tem objetivo privatista, para aumentar a matrículas do ensino privado. Enquanto isso, a educação pública perde qualidade, o salário dos professores fica abaixo do necessário.

Sei que essa é uma realidade não só do Brasil, mas de toda a região, pois recentemente fizemos um balanço político-educacional em uma reunião com entidades do Cone Sul (Chile, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). O avanço conservador acontece de forma articulada na América Latina por meio dos setores mais reacionários e monopólios internacionais que vendem educação.

É papel do movimento estudantil e juvenil da América Latina enfrentar essa onda neoliberal e defender a educação pública, gratuita e de qualidade. Nós, da OCALE, temos um conceito da educação como bem público social, direito humano universal e dever do estado.

UBES: E quais são, agora, os próximos passos da OCLAE nessa resistência?

YORDAN: Lançamos na Argentina a convocatória para o 18º Congresso Latino Americano e Caribenho de Estudantes, que vai debater sobre a educação no continente 100 anos depois da Reforma de Córdoba [o primeiro e mais importante manifesto de estudantes latinos pela educação pública]. Será em junho de 2018. Até lá, vamos gerar esse debate através da caravana educacional latinoamericana. Passaremos pelas escolas, universidades, centros de educação rural, indígenas.

Outra prioridade para o próximo período é o fortalecimento do movimento secundarista, que tem demonstrado muita capacidade de mobilização. Vamos realizar o segundo Encontro Latino Americano e Caribenho de Estudantes Secundaristas na Colômbia, durante o congresso da ANDES (Associação Nacional dos Estudantes Secundaristas da Colômbia), de 28 de setembro a 1º de outubro. Vamos construir a educação que queremos e estar mobilizados, não só com denúncias, mas também com propostas.

UBES: A UBES é responsável pela cadeira de Movimento Secundarista dentro da OCLAE… Qual é a importância do movimento secunda brasileiro no continente?

YORDAN: A UBES está organizando e articulando o encontro secundarista junto com a ANDES, dos secundaristas colombianos, anfitriões do evento. Evidentemente, a UBES, por sua capacidade de mobilização, de acúmulo sobre o tema, terá papel fundamental.

Em 2018 faz 100 anos o Manifesto de Córdoba, que exigiu pela primeira vez que a educação na América Latina fosse inclusiva, democrática e refletisse a realidade do continente. Ainda está muito longe da realidade?

Muitos pontos do Manifesto de Córdoba ainda estão pendentes. A educação no continente é gratuita em que sentido? Qual acesso que existe hoje às universidades? Como se dá a gratuidade da educação em cada país? A gente tem dado passos de avanços na qualidade, no acesso, na gratuidade, na democracia das universidades e escolas, mas em muitos lugares isso ainda é um sonho para o movimento estudantil. Enquanto for um sonho, o movimento estudantil deve ser referência em matéria de resistência e luta por essas bandeiras.

UBES: No seu país, Cuba, como é a educação? Podemos aprender alguma coisa com este exemplo?

YORDAN: Nosso caso cubano é uma exceção em relação aos demais países do continente. Temos acesso universal ao ensino desde os primeiros anos escolares até os últimos anos de pós-graduações no ensino superior. As famílias têm obrigação de garantir a participação dos estudantes no sistema educativo e, o Estado, de garantir as condições para o aprendizado da escola até a universidade.

Há 39 universidades em uma ilha de 11 mil habitantes. É uma experiência a ser usada como inspiração, na medida do possível, adaptando ao contexto de cada nação.

UBES: É sua primeira passagem pelo Brasil, correto? Quais estão sendo suas impressões?

YORDAN: Percebi que o brasileiro e o cubano têm uma característica em comum: a maneira receptiva com que recebem os visitantes no seu país. É uma coisa que levo desta primeira visita ao Brasil.

Segundo, tive oportunidade de ver de perto como se geram as mobilizações no país. Afinal, estou vivenciando um contexto de resistência histórico no Brasil. Em um momento em que se vê o ataque à democracia, vejo o valor da participação nas decisões reais do país. Vejo uma juventude que se dedica a fazer política e mobilizar nas ruas, com o povo, os sindicatos, os movimentos sociais em geral, exigindo o retorno da democracia contra o golpe de Estado que se perpetua de algumas maneiras nas instâncias de poder. Esta luta é também uma responsabilidade e um desafio meu, como presidente da OCLAE.