“A condução está tão cara / Conforto é o que não tem / Mas o trabalhador encara / Essa rotina sem nunca depender de ninguém”. Os versos são da música “A volta pra casa”, do rapper Rincon Sapiência e expressam fielmente a realidade cotidiana dos trabalhadores. A canção foi citada no 42° Congresso da UBES, durante a mesa de debate sobre Passe Livre nesta quinta (30) em Goiânia (GO) e levantou questões importantes sobre o direito de acesso à cidade para a juventude.
Não é de hoje que a mobilidade urbana é discutida na sociedade brasileira. Em 1955, manifestações contra o aumento das passagens de bonde já ocorriam no estado do Rio de Janeiro. Cinquenta anos depois, o movimento explodiu com as jornadas de junho de 2013, levou milhões às ruas contra o preço abusivo da tarifa. Mesmo assim, a política de transportes continua excludente e injusta.
De acordo com o criador do Projeto Tarifa Zero, Lúcio Gregori, a gratuidade no transporte é possível, mas não é implementada pois trata-se de uma disputa política que é eficaz em segregar. “No Brasil, quem paga o imposto mais alto é o pobre. O rico quando arca com algum valor é um custo mínimo. O transporte é só mais uma maneira de aumentar a diferença entre classes”, explica.
Ao longo da discussão, os estudantes relataram sobre suas dificuldades em se mover pela cidade. A secundarista, Lara, 16, reside em São Jerônimo, no Rio Grande do Sul e explica que demora cerca de 1 hora até a instituição de ensino em que estuda. “Eu tenho sorte até, porque pago a van com o auxílio que recebo do IF onde estudo, mas se não precisasse custear minha mobilidade, com certeza poderia utilizar esse dinheiro para investir na compra dos meus livros e até frequentar mais vezes museus e teatros da minha cidade”, afirma.
O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES) Caio Guilherme, que participou ativamente da luta dos estudantes paulistas em defesa do passe livre, explicou que a gratuidade auxiliou positivamente no bolso das famílias brasileiras. “Imagina como era custear as passagens de ônibus de dois, três filhos para que eles pudessem ir até à escola, Com certeza com essa economia faz diferença na vida do trabalhador”, disse.
O Congresso da UBES segue até este sábado (2), com atividades na Arena Goiânia. Acompanhe ao vivo pela página da UBES no Facebook.
Por Débora Neves, de Goiânia
Fotos: Nilmar Lage.