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300 mil na Paulista avisam: “Aposentadoria fica”

Se nesta quarta (15) a maior economia do Brasil amanheceu parada, com a força de trabalhadores em greve, ela anoiteceu movimentada, muito movimentada. São Paulo foi palco da maior demonstração popular de resistência às prioridades do governo ilegítimo de Michel Temer desde que ele assumiu o cargo. Cerca de 300 mil pessoas de todas as idades preencheram a avenida Paulista inteira para dizer que querem defender não apenas o seu presente, mas também o seu futuro e o das próximas gerações.

“A minha aposentadoria está garantida, mas estou na rua hoje para lutar pelas futuras gerações’’, afirma à reportagem a professora de história Rita de Cássia Alexandre.

15 m rita de cassia alexandre

Foto: Renata Bars

Aos 67 anos, e com 30 anos de contribuição, ela diz que a proposta de reforma da previdência é uma afronta à população. “Estamos perdendo de uma hora pra outra nossos direitos para um governo golpista”, falou. Caso não estivesse aposentada, Rita sofreria com as mudanças da reforma. “Não conseguiria me aposentar e teria de trabalhar mais uns bons anos”, alerta.

A juventude também mostrou que está atenta e forte às medidas que podem ameaçar seu futuro. “A luta continua, é só o começo. Assim como os estudantes secundaristas ocuparam suas escolas, o povo brasileiro vai ocupar as ruas para dizer que a aposentadoria fica e Temer sai”, discursou para a multidão a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Camila Lanes.

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Foto: Yuri Salvador

O ato na capital paulista, com a presença de lideranças sindicais, movimentos sociais e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi o coroamento de um movimento de paralisações e manifestações em todas as regiões do Brasil contra as reformas propostas pelo governo federal em exercício, principalmente a reforma da Previdência – a próxima a ser votada no Congresso Nacional -, mas também contra a reforma trabalhista e a lei da terceirização.

“Está ficando cada vez mais claro que o golpe foi dado para colocar um presidente ilegítimo que retirasse os direitos que levamos anos para conquistar”, discursou o ex-presidente  Lula, no começo da noite. Para ele, o equilíbrio da previdência deveria ser alcançado não com cortes de direitos, mas com geração de emprego e renda. “Mostramos que o pobre não é o problema, mas a solução deste País”, afirmou.

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“Não tem cabimento”

Presente na avenida Paulista, a professora Simone Aguirre, de 37 anos, sente-se indignada com a situação.

“Estão tirando todos os nossos direitos e a mídia que deveria estar mostrando a realidade, mostra uma realidade totalmente contrária, dizem que as pessoas em greve atrapalham a vida do trabalhador, quando na verdade estamos aqui lutando pelos nossos direitos e pelos direitos de todos’’, disse

Simone dá aulas de educação física e trabalha desde os 20 anos. Pelas regras atuais sua aposentadoria sairia aos 60 anos. Com a nova proposta, o benefício só estará disponível aos 72 anos de idade.

“Imagina um professor de educação física dando aulas até os 72 anos? É por isso que devemos lutar e conscientizar as outras pessoas. Muitos não sabem do que se trata essa reforma, mas eu acredito que com conscientização e união mais pessoas sairão às ruas para assegurar nossos direitos’’, destacou.

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Foto: Renata Bars

O parágrafo 5º do artigo 40 da Constituição Federal assegura aos professores da educação básica o direito de se aposentarem com 55 anos, no caso dos homens, e 50 anos no caso das mulheres. Para a aposentadoria ocorrer por tempo de serviço, o professor deve ter contribuído por 30 anos e a professora por 25 anos.

Com a reforma, as regras mudam drasticamente: a idade para aposentadoria passa a ser de 65 anos para ambos os sexos e a contribuição por tempo de serviço salta para os 49 anos.

Aos 17 anos, o estudante e trabalhador – sem carteira assinada – Lucas Santos também  já sabe que a batalha é árdua.

“O que o governo está propondo não é uma reforma, mas sim uma destruição. Não tem cabimento uma pessoa trabalhar a vida toda e mal conseguir se aposentar’’, disse.

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Foto: Yuri Salvador

Para conseguir a aposentadoria aos 65 anos, Lucas  teria que começar a trabalhar com registro imediatamente. Contudo, ele ainda tem esperanças na força do trabalhador brasileiro.

“O povo tem poder, só precisa se unir. Temos que nos juntar e lutar contra, ocupando cada vez mais as ruas. Só assim poderemos reverter essa proposta’’, disse.

A estudante universitária Jennifer Ferreira também acredita na luta das ruas: “200 mil pessoas estão aqui para mostrar que podemos. Temos de continuar a luta e não desistir’’.

Dia histórico

Lideranças sociais garantem que a força das ruas demonstrada nesta quarta será o diferencial para barrar medidas impopulares em uma Câmara dos Deputados adversa. “A demonstração de força dada pelos trabalhadores e trabalhadoras com certeza vai incidir no processo. Vamos ter que fazer disso um conjunto de mobilizações para o próximo período”, destacou Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

“O ambiente é hostil no Congresso, que defende a agenda ultraconservadora e aprova pautas impopulares. É com este calor das ruas que podemos enfrentar a situação”, apostou Adílson Araújo, presidente da CTB.

Este 15 de março já entrou para a história, ressalta Edson Carneiro ‘Índio’, da Intersindical. “Foi o dia em que setores populares invertem relações de forças. É possível derrotar os desmontes de direitos e a população apoiou massivamente as manifestações!”, afirma.

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Foto: Yuri Salvador

Para Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o movimento de resistência está organizado e só vai parar com a  retirada total dos projetos de reforma da Previdência, reforma trabalhista e lei da terceirização:

“Não vamos negociar migalhas com Michel Temer. Hoje fizemos a greve mais bonita dos últimos tempos e estamos mostrando que temos resistência organizada. Se ainda assim as reformas avançarem, vamos organizar a maior greve geral deste País!”.

Flavia Oliveira, da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo, ressaltou a falta de legitimidade da reforma: “Não querem respeitar o que nós elegemos nas urnas”. Quem resume é Emerson ‘Catatau’, da União Municipal dos Estudantes (UME): “O dia de hoje é um registro histórico de que a unidade é a bandeira da esperança. Continuaremos resistindo”.

Por Natália Pesciotta e Renata Bars, de São Paulo

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Foto: Yuri Salvador