Após quatro dias da ocupação de Porto Alegre (RS), com atividades em diversos pontos da cidade, o Fórum Social Temático 2016 terminou no último sábado com a tradicional assembleia dos movimentos sociais. Realizada no auditório Araújo Vianna, no meio do parque Redenção, centro nevrálgico do encontro, a plenária de encerramento do FST aprovou uma carta compromisso com o apontamento de que o atual momento político e econômico no mundo exige unidade e disposição de luta para evitar retrocessos civilizatórios.
Para os movimentos signatários da Carta do Fórum Social Temático 2016, entre eles a UNE, a UBES e a ANPG, o capitalismo encontra-se em uma de suas piores crises e as medidas que vêm patrocinando para superar o cenário podem agravar ainda mais o quadro de desigualdade no mundo, ampliando também a supressão de direitos.
Um dos pontos mais destacados foi o ataque ao mundo do trabalho e dos direitos que vem sendo promovido pelo grande capital como saída para a crise. As progressivas ameaças de precarização do trabalho e supressão de direitos, aponta a carta, devem se intensificar ao longo deste ano, exigindo máxima unidade e capacidade de mobilização por parte dos movimentos sociais e outras organizações.
O FST teve forte presença da juventude e debates lotados e bastante politizados sobre a conjuntura nacional e internacional e as lutas do movimento social pelo mundo.
A UNE, a UBES e a ANPG organizaram uma das mais concorridas mesas, com a presença do músico Tico Santa Cruz, da banda Detonautas, atuante nas redes sociais em defesa da democracia e contra o ódio destilado pelos conservadores e reacionário da internet.
“Como artista, pessoa pública, minha função hoje é defender a democracia. Faço nas redes sociais um trabalho de desconstrução do pensamento único. Se todos os artistas que tem grande alcance pudessem levantar esse outro lado, a gente ia diminuir esse cenário de regressão das ideias. A gente precisa de mais informação para formar pessoas que pensem e produzam as suas próprias ideias”, disse o músico. (Leia mais aqui)
Para o secretário-executivo da Oclae (Organização Continental, Latino Americana e Caribenha dos Estudantes), o brasileiro Rafael Bogoni, neste momento de crescente onda conservadora e de rearticulação dos setores reacionários, os estudantes e a juventude precisam estar unidos e, cada vez mais alinhados com os desafios impostos pela conjuntura.
“No marco dos 50 anos da Oclae, as entidades estudantis se preparam para um ano de grandes mobilizações em todo o continente. Nós convidamos os movimentos presentes no Fórum para se somarem à luta dos estudantes e da juventude para barrar o avanço conservador e imperialista e impulsionar grandes lutas pela educação, pela democracia e pela paz. Está nas nossas mãos a oportunidade de lutar e conquistar um “Outro Mundo Possível”, convocou.
A presidenta da UNE, Carina Vitral, destacou o Fórum como um dos mais importante espaços para revigorar a luta em defesa da democracia não só no Brasil mas em todo o mundo e, principalmente, na América Latina.
“Precisamos também combater a política econômica que tira dinheiro da educação, que privilegia o lucro do capital e não a ampliação dos programas sociais. E temos que denunciar a mercantilização da educação que tem transformado um direito em mercadoria, tratado um setor estratégico para as nações e transformador para o povo, como um produto na prateleira de um supermercado”, pontuou.
A presidenta da UBES, Camila Lanes, destacou a importância da luta pela desmilitarização das polícias militares no Brasil. “Historicamente, a juventude brasileira vem sendo agredida e morta pela PM”, disse, lembrando que isso segue acontecendo no cotidiano do país, sem que os policiais envolvidos nos casos de agressão e morte sejam punidos.
“Esse Fórum tem critério especial, 15 anos após sua primeira edição estamos nos encontrando para mais uma vez socializar as experiências vividas e nós do movimento estudantil temos socializado e compartilhado a nossa luta e resistência para impedir o fechamento, a militarização e a privatização da escola pública”, denunciou.
O sociólogo e professor Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra e da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (Upms), avalia que foi importante a realização deste fórum diante da atual conjuntura global: “Saímos daqui com muito mais força, mais seguros dessa força e mais conscientes dos perigos e das dificuldades, dos obstáculos e dos inimigos contra quem temos que lutar”.
Boaventura, que participa ativamente do fórum desde sua primeira edição, em 2001, fez um balanço desses 15 anos. Para ele, o FSM surgiu em um tempo de esperança. “Estávamos no único continente onde era possível se falar em socialismo do século 21”, disse, se referindo a onda de eleições de governos progressistas que ocorreu na América Latina no início do século. E destacou que uma das vitórias do FSM foi sustentar e articular os movimentos sociais que foram a base das políticas sociais desses países.
Na assembleia dos movimento sociais foram pontuados ainda temas abordados ao longo do fórum, como economia solidária, educação popular, luta anti-manicomial, direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, das mulheres, dos negros e negras, da população LGBT, indígenas, quilombolas, luta do povo palestino, luta pela democratização da comunicação, mobilidade urbana, direito à moradia, entre outros. Foi lembrada também a tragédia ocorrida em Marina (MG) com o rompimento da barragem da mineradora Samarco (Vale e BHP).
Outro ponto reforçado foi a necessidade de defesa da manutenção dos mandatos de governantes eleitos democraticamente no Brasil e na América Latina. “Não vai ter golpe, vai ter luta”, disseram muitos dos presentes que usaram o microfone para fazer contribuições à carta do fórum.
O documento é construído de forma coletiva e todas as propostas e moções foram encaminhadas para a equipe de sistematização, que irá incluí-los na versão final. A Carta do Fórum Social Temático 2016 estará disponível no site: http://forumsocialportoalegre.org.br/
O próximo Fórum Social Mundial vai ser no Canadá, em agosto de 2016. É a primeira edição que ocorre em um país do norte global.
Com informações do FST 2016