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ROZANA BARROSO: Quanto vale o sonho da juventude negra?

Daria um filme, uma negra e uma criança nos braços…Trilha sonora de muitas meninas como eu. Segunda filha dos quatro de Dona Edilma de Cassia, 38 anos, estudante do Ensino de Jovens e Adultos e empregada doméstica. Sempre questionei o fato de ter uma mãe ainda na escola. Jamais por vergonha, mas sim por revolta. Já que as famílias para quem trabalhava só tinham doutores. Por que não nós? Foi a pergunta que me fez ter um objetivo: ser a primeira da família no ensino superior.

Todas as mulheres negras da minha família materna tiveram um caminho: limpar chão e cuidar de crianças que não são as suas. Fruto da desigualdade social e o que ela causa no acesso à educação, todas evadiram da escola. De uns anos pra cá, muitos interromperam esse ciclo de distância da educação em suas famílias. O número de jovens negros na universidade cresceu e em cada sala de aula do ensino médio, os olhos das meninas e meninos brilhavam ao ouvir o nome da prova que poderia transformar suas vidas. Exame Nacional do Ensino Médio.

De uns anos pra cá, muitos interromperam esse ciclo de distância da educação em suas famílias. O número de jovens negros na universidade cresceu e em cada sala de aula do ensino médio, os olhos das meninas e meninos brilhavam ao ouvir o nome da prova que poderia transformar suas vidas. Exame Nacional do Ensino Médio.

Não é diferente em nossa geração, sempre fazíamos a prova para treinar, marcávamos estudo e eu perdia até o sono pensando nela. Hoje, fazendo pré-vestibular, também perco o sono por achar que ela pode não acontecer.

Uma coisa é certa, sobre o ENEM muitos de nós temos opiniões diferentes. De melhorias, ajustes e avanços que a prova precisa. O que não podemos negar é a sua importância e a desvalorização da mesma nos últimos dois anos. A última prova foi notícia pelos desastres na correção e, a próxima, é notícia pela irresponsabilidade e falta de diálogo com a comunidade escolar para sua realização.

“A última prova foi notícia pelos desastres na correção e, a próxima, é notícia pela irresponsabilidade e falta de diálogo com a comunidade escolar para sua realização.”

A pandemia do coronavírus traz consigo muitas crises, uma delas é o agravamento do que já conhecemos, a desigualdade social. A fome, o desemprego e o subemprego crescem, e se pensarmos em quem são as famílias dos estudantes de escolas públicas, podemos entender o porquê da evasão escolar estar crescendo também.

São muitos os menores de idade que burlam sistema de aplicativo para trabalhar, ou, como meu irmão, batem cimento para ajudar em casa. São mais de sete meses longe da alimentação escolar, que, para muitos estudantes, era a única alimentação do dia. São dias de desespero longe de qualquer tipo de aprendizado, fruto da exclusão digital, que por si só já viola o direito de acesso à internet, considerado pela ONU como um direito do século 21. E por conta disso, contribui para a violação de outro que é garantido na Constituição Federal, o acesso à educação.

Toda essa situação prejudica o povo brasileiro. Sem educação, não há saídas para a superação das crises que vivemos, muito menos país desenvolvido tecnologicamente, economicamente e socialmente. Não pode estar a contento um país onde a escola não acompanha o desenvolvimento tecnológico, onde crianças sofrem com a desnutrição infantil e os sonhos têm sido perdidos junto com a jujuba, que muitos têm vendido no sinal.

“Sem educação, não há saídas para a superação das crises que vivemos, muito menos país desenvolvido tecnologicamente, economicamente e socialmente.”

Através da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, entidade que presido, pedimos mais uma reunião com o MEC. E a luta para pensarmos saídas para a prova permanece. Não podemos assistir sentados um Brasil se afundando na desesperança. É hora de defender a educação para salvar o Brasil!