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ENTREVISTA: Eleger um grêmio é pensar a escola

No meio das eleições presidenciais de 2018, a cineasta paulista Alice Riff registrou a democracia sob outro ponto de vista. Seu filme “Eleições” acompanha a escolha da chapa para o grêmio de uma escola paulistana e é muito revelador de como a participação modifica o ambiente escolar.  

Em vez de previdência, fronteiras ou porte de armas, nesta eleição envolvente as candidaturas falam de bebedores, funk no intervalo e goteiras na sala de aula. Mas estão muito presentes assuntos como feminismo, religião, LGBTfobia e imigração.

Para a diretora, o final do filme com a eleição do grêmio não é o que mais importa. Após conviver por três meses com a Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, ela acredita nesta experiência democrática para a formação de estudantes e envolvimento com o ambiente escolar: “Não importa se a chapa ganhou ou perdeu, pois o que houve ali foi pensar a escola.”

UBES: O que você sentiu que mudou nos estudantes com a participação nas chapas do grêmio?

Alice Riff: Eles mesmos me falaram o que mudou. Começaram a ter mais facilidade para falar em público, mais argumentos para reivindicar qualquer coisa. Conheceram mais pessoas, pois quando as chapas se formaram, eles começaram a conversar mais com outros estudantes. Então eles entenderam quais eram as demandas, quais eram os problemas da escola.

Isso fez com que a escola conversasse mais entre ela. Não somente entre alunos, mas com professores e direção também. A discussão passou a existir dentro do ambiente escolar. Não importa se a chapa ganhou ou perdeu, pois o que houve ali foi pensar a escola.

“Não importa se a chapa ganhou ou perdeu, pois o que houve ali foi pensar a escola.”

UBES: O engajamento na eleição de um grêmio traz aprendizados, assim como as lições em sala de aula?

Alice: Eu acho que todo e qualquer processo traz algum aprendizado. Essa experiência influencia positivamente a habilidade de negociação, seja nas relações familiares, no mercado de trabalho…

Tanto o processo de participar de um filme como o de participar de um grêmio os faz perceber melhor suas aptidões. Por exemplo, um é melhor para ser tesoureiro, outro na produção etc. Então o estudante começa a entender como se sente melhor.

UBES: Os estudantes do filme acabam trazendo para as discussões assuntos da sociedade, como feminismo, diversidade, religião… Seria possível um muro que retirasse estes temas da escola, como determina o projeto “Escola Sem Partido”?

Alice: É impossível, na verdade. Senão, para que serve a escola? Eliminar estes temas não é nem de interesse do professor, nem do aluno. Se a gente eliminar o mundo, nós vamos aprender sobre o quê? Estamos na escola para isso. Essas ideias de acabar com o espaço de reflexão política dentro da escola vêm de pessoas distantes da ideia do que é construir a educação.