Ubes – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

Mulher pode fazer o que quiser? Só com luta, dizem convidadas no 5º EME
18 de October de 2019
“Ser protagonista da própria história”: O chamado da comunicação para as mulheres estudantes.
18 de October de 2019
Mostrar todos os posts

“A sociedade não está preparada para ver outras formas de amor”

“A nossa fase enquanto jovem secundarista é a fase em que nos descobrimos como pessoa, a nossa identidade, e é nessa hora que os dois pilares mais próximos de nós são determinantes: a escola e a família. Infelizmente são nesses pilares que ainda somos enfraquecidos”. A fala de Tathiane Araújo, Secretária Nacional do Segmento LGBT do PSB, sintetiza o desejo de mudança compartilhado na mesa desta manhã, (18).

Com o tema “A realidade das mulheres secundaristas na situação de lésbicas, bissexuais e transexuais – LBT”, as estudantes se reuniram para falar sobre o preconceito em suas escolas e debater os caminhos dessa luta que ainda tem muito que avançar.

“Ser mulher e não heterossexual é ter medo de sair na rua, ser agredida, estuprada. Não é o medo de ser assaltada, é de ter seu corpo violado. A sociedade não está preparada para ver outras formas de amor”, Anitta Barbosa, Diretora do CEM. | Foto: Lene Bento / Circus da UBES.

Anitta Barbosa, Diretora de Mulheres do Centro Estudantil Mossoroense (CEM), compartilhou suas experiências pessoais como estudante, mulher e bissexual. Destacou que a mulher bissexual é, por vezes, invisibilizada: “Nós, mulheres, somos forjadas à luta, à luta pelo acesso ao estudo, aos espaços públicos, à vida”. A jovem também chamou atenção para os perigos representados pelo atual governo federal que não tem preparado políticas públicas para mulheres e LBT’s: “Pelo contrário, tem buscado tirar direitos que viemos lutando há muito tempo”, enfatizou.

De acordo com levantamento realizado, desde 2016, pela Rede Trans Brasil*, a expectativa de vida de travestis e transexuais é de apenas 35 anos e 80% das mortes de trans no Brasil ocorreram em esquinas, enquanto tentavam trabalhar para sobreviver. “Ainda nos deparamos, além da falta de compreensão, com a falta de espaço nas instituições sociais Não tem como não falar da morte social dessas pessoas, isso se não chegarem à morte física. Nos apedrejam de dia e à noite nos vêem nas ruas como a carne mais barata. A sociedade comercializa a carne que repulsa”, disse Tathiane que também é presidenta da Rede Nacional de Pessoas Trans.

Ela, que foi presidenta da União dos Estudantes Secundaristas de Sergipe e a primeira pessoa trans a presidir um grêmio estudantil em Aracaju (SE), não deixou de lembrar seus tempos de secundarista e lamentou o fato de pouco ter mudado: “”O espaço secundarista ainda não é um espaço seguro, ainda não é um espaço digno onde a juventude que sonha se alimentar de futuro possa ser quem é!”.

“Eu não seria a Thatiane, presidenta da rede nacional de pessoas trans, se não tivesse passado pelo movimento estudantil”, Thatiane Alves, secretária nacional do segmento LGBT do PSB e presidenta da Rede Trans Brasil. | Foto: Patricia Santos.

“O EME é um espaço vitorioso, foi conquistado! A nossa luta aqui é por uma luta coletiva para libertação das correntes que nos foi colocada pelo patriarcado”, reforçou Keully Leal, ex-diretora da UBES e da UNE.

Outro ponto discutido foi a evasão escolar devido à homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia e o fato da discriminação dificultar que este estudante conclua seus estudos, pois infelizmente a escola é um estrato da sociedade e ainda reproduz padrões heteronormativos e patriarcais.

“O que me levou à tomar frente nessa luta foi o conservadorismo excessivo nas escolas da minha cidade que perseguem os alunos LBT’s. Pra mim, é muito importante estar aqui vindo de tão longe para representar mulheres trans, negras e indígenas e todos os estudantes, pois não merecemos passar por tanto constrangimento” , Brenda Lourenço, 17 anos, de Lapa (PR). Estudante do Ceebja Paulo Leminski, foi a primeira mulher trans a presidir uma UMES. | Foto: Patricia Santos.


*Conheça o trabalho realizado pela Rede Nacional de Pessoas Trans – Brasil.

Redação: Aline de Campos, de São Paulo
Foto de capa: Patricia Santos