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Combate ao racismo também foi tema no Seminário de Educação

“Querem nos furtar do debate das relações raciais no Brasil por medo de perderem os privilégios”, diz Dandara Tonantzin, Conselheira no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), uma das convidadas do GT que aconteceu durante o Seminário Nacional de Educação da UBES, na última sexta-feira (20), no IFSP.

A mesa, que também contou com a participação de Acácia Araújo, ativista do Coletivo Quilombo e do Sôrô Odô Biyi (Coletivo de jovens adeptos ao Candomblé), e foi mediado por Ruan Paulo, Diretor de Combate ao Racismo da UBES, abordou a aplicação da Lei 10.639/03 de 2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana afro-brasileira, e sua importância no combate ao racismo.

Escravidão, abolição e Dia da Consciência Negra. Estas são as situações nas quais a história do negro africano e brasileiro costumam aparecer no âmbito escolar. Para propor novas diretrizes curriculares sobre o tema, foi sancionada esta Lei com aplicação nos ensinos fundamental e médio, em escolas públicas e particulares.

Dandara Tonantzin durante debate Contra o Racismo no Seminário de Educação da UBES.

Mas, na prática e de acordo com o Censo Escolar de 2015, a diversidade racial não está na pauta de 52% das escolas públicas no Brasil. Para Dandara, este dado reflete a invisibilização da história negra.

“A educação tem um papel fundamental na luta contra o racismo”

No Grupo de Trabalho, Acácia Araújo apontou a educação como parte fundamental no combate ao racismo:

“Quando, em sala de aula nos referimos ao escravo, na maioria das vezes estamos nos equivocando. Ninguém foi escravo, e sim escravizado. Nas escolas acabamos naturalizando a escravidão sem percebermos o significado preconceituoso que lhe é atribuído”.

Acácia Araújo chamou atenção para como as escolas se referem ao período escravocrata no Brasil.

Contribuindo com o pensamento de Acácia, Dandara enfatizou que o racismo no Brasil organiza as relações de poder e está além de ser um comportamento individual, o que reflete no âmbito escolar: “Na escola, passamos a maior parte da nossa infância e adolescência. Precisamos romper com a lógica Eurocêntrica dos currículos, descolonizar os saberes e práticas educativas. A implementação da Lei 10.639/03 é fundamental neste processo”.

Outro ponto debatido no GT de Combate ao Racismo, foram os caminhos para que avanços na educação sejam conquistados a partir do cumprimento da Lei. Acácia Araújo destacou a necessidade de uma análise dos livros didáticos. Para ela, a maioria deles sequer aborda a luta dos escravos e de seus descendentes pela sobrevivência e pela liberdade cultural e religiosa.

Estudantes participaram da mesa compartilhando suas vivências pessoais e se emocionaram ao levantar as dificuldades que enfrentam por serem negros. E contribuíram com sugestões de como as escolas devem trabalhar no combate ao preconceito racial, ao invés de fechar os olhos para o problema e até mesmo alimentar esta prática.

 

A juventude à frente do debate

Para vencer o racismo e a segregação racial é preciso que as opressões sejam combatidas em todos os espaços, inclusive dentro das escolas. “A juventude, principalmente os representantes de turmas e grêmios estudantis, devem questionar e propor que haja mais diálogo sobre as questões raciais e a contribuição das populações africanas no nosso cotidiano”, ressalta Acácia.

Durante o debate, Ruan Paulo lembrou da responsabilidade dos jovens em contribuir no combate ao racismo: “Enquanto estudantes negros brasileiros vítimas de um processo histórico de desigualdades estruturadas pelo racismo, somos agentes da mudança social e por isso devemos ser protagonistas da luta antirracista”.

Ruan foi mediador do GT e é Diretor de Combate ao Racismo da UBES.

Ruan pontuou que os estudantes e dirigentes negros da UBES vêm contribuindo para a aproximação da entidade com a luta por políticas afirmativas e antirracistas na educação. E relembrou Edson Luís, estudante secundarista negro e militante assassinado por policiais militares há 50 anos.

Dandara Tonantzin também falou da importância da juventude estar à frente deste debate e enfatizou a relevância da UBES em propor essa discussão com os estudantes: “A UBES priorizar esse debate significa dizer que a educação dos nossos sonhos será antirracista!”.