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UBES relança o CIRCUS, circuito cultural dos secundaristas

Fim de tarde quente, auditório cheio, vozes efusivas, ouvidos interessados, tambores ativos. A mesa sobre “comunicação das novas narrativas” e “cultura no movimento estudantil” fechou o dia de debates do 16° CONEG, na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, na última sexta-feira (8).

Quando os estudantes terminavam de fazer suas colocações, alguns deles se levantaram para declamar um manifesto, espalhados pelo auditório. Era o lançamento – ou melhor, o relançamento – do Circuito de Cultura Secundarista (CIRCUS), iniciativa que já existiu no passado e que será agora uma rede formada por jovens de vários estados para trocar, incentivar e fortalecer as manifestações artísticas secundaristas.

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Bruno Ramos: “Criminalizar o funk é criminalizar o jovem pobre, preto e da periferia”

“Durante a primavera secundarista, chamou atenção a forte da cultura como expressão da juventude. Vamos manter essa força. Nós mesmos queremos fazer a narrativa das nossas vidas e de como é o mundo que achamos ser possível construir”, explica a diretora de Comunicação da UBES, Fabíola Loguercio.

A ideia tem tudo a ver com o que os convidados da mesa apresentaram, momentos antes. Participaram Laura Capriglione, coordenadora dos Jornalistas Livres, Bruno Ramos, da Liga do Funk, Beto Teoria, da Nação Hip Hop Brasil, o músico César Agaras, a atriz do Teatro Oficina Brenda Amaral, a coordenadora do CUCA da UNE Camila Ribeiro e Kerison Lopes, presidente da Casa do Jornalista de Minas Gerais e ex-presidente da UBES.

Fotos: Yuri Salvador

Guerra da informação

Para Bruno Ramos, da Liga do Funk, a perseguição ao funk, ritmo comum a grande parte dos secundaristas nas periferias do Brasil, é a mesma perseguição que já criminalizou o samba e o rap. Defendeu que o ritmo musical tem potencial para reunir a classe média e a quebrada, “colar a cidade partida”.

Ele se disse arrepiado com o movimento secundarista e foi direto: No meio dessa conjuntura, temos é que ‘hackear’ o sistema com estratégia, sem disputa de ego”. Falando também sobre ‘hackear’, o jornalista Kerison Lopes refletiu sobre a luta a partir da área da comunicação. Ex-presidente da UBES há 30 anos, ele foi criador do jornal Plug e do site da entidade.

Analisando os dois momentos, explicou que hoje a comunicação está nas mãos de empresas americanas, o Google e o Facebook, capazes de manipular e incentivar a “pós-verdade”, como se chamam as notícias falsas. Segundo ele, as mentiras espalhadas na rede foram capazes de eleger Donald Trump presidente dos Estados Unidos. E provocou:

“Assim como os guerreiros do Araguaia pegaram em armas para defender a democracia, hoje é preciso lutar com nossos smartphones na guerra de informação.”

Arte é liberdade

Para Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, é essencial que cada um conte sua própria história, com os formatos disponíveis hoje. “Os melhores jornalistas do mundo não vão falar da realidade do menino negro melhor do que o homem negro e a mulher negra, que sabem como é ser descriminado”, ressaltou, aplaudida.

Laura Capriglione: “”Os melhores jornalistas do mundo não vão falar da realidade do menino negro melhor do que o homem negro e a mulher negra, que sabem como é ser descriminado” (Foto: Yuri Salvador)

Com o microfone aberto para inscrições, os estudantes trouxeram um pouco da sua realidade e registraram a importância das manifestações artísticas das suas quebradas. A secundarista do Maranhão Shaiane sacudiu o auditório e deu o tom da sua geração:

“Quando somos silenciados, a arte é nossa liberdade. Os escravos fizeram sua luta em força de dança. Na ditadura, o que não podia ser dito era extravasado em música. Hoje, os homossexuais não encontram espaço. Mas vem Pablo Vittar e diz: ‘Vou jogar bem na sua cara’”.

Dessa forma, reativou-se o projeto do CIRCUS, para jogar na cara de todo o Brasil a criatividade e a potência cultural dos secundaristas, transformando o mundo pela luta e pela arte, criando, dançando, registrando, narrando por eles mesmos o mundo em que vivem e, principalmente, aquele em que querem viver.

Assista à mesa.

Por Natália Pesciotta, de São Paulo
Foto destaque: Guilherme Silva – CUCA da UNE